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De generalista a especialista: o que há no meio do caminho?

Vocês já devem ter visto que a programação do VI Congresso Internacional de Tradução e Interpretação da Abrates saiu esta semana, não é? E eu estarei lá para batermos um papo sobre especialização!
Estou levando um pouco da minha bagagem profissional e um material muito bacana para ajudar você a identificar oportunidades de especialização e poder trilhar o melhor caminho para se tornar um bom especialista e um profissional bem sucedido.
Nos vemos lá? 🙂
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De generalista a especialista: o que há no meio do caminho? 
Uma perspectiva para o tradutor principiante

 
Após a conquista de ter entrado efetivamente no mercado de tradução, outro grande desafio se apresenta ao tradutor em início de carreira: como encontrar um nicho de especialização? A busca incessante por bons serviços e clientes, típica dessa fase, o transforma em um grande generalista, que lida com textos dos mais variados setores, mas dificilmente se aprofunda em algum.
 
É normal que para o iniciante as oportunidades de especialização nem sempre se mostrem claras. Sem conseguir identificá-las, ele não sabe quais ações tomar rumo à carreira como tradutor especializado. “Engessado” por essa dificuldade, os primeiros passos resultam em esforços muitas vezes desnecessários e atrapalham a decisão por uma área de atuação adequada. Isso pode levar a baixa qualificação, dificuldade em prospectar clientes melhores (e, consequentemente, elevar o patamar de preços), problemas em estruturar a rotina de trabalho e financeira, frustração com a profissão em geral e até abandono da atividade.
 
A ideia é mostrar a você, iniciante, como identificar oportunidades de especialização e o caminho para se tornar um bom especialista, unindo minhas experiências pessoais e profissionais com soluções, insights e dicas práticas que poderão facilitar esse processo.

Medo de ser tradutor? Tem cura!

Depois que contei sobre como virei tradutora lá no Multitude e de como, inicialmente, tive medo de me atirar na profissão, algumas pessoas me perguntaram: como perder esse medo?

É natural que o recém-formado ou novato na profissão sinta insegurança. Mas há alguns modos de lidar com ela e tomar coragem para investir na vida de tradutor. Confira abaixo:

1) Entenda o mercado e o ofício de tradução

Não saber direito como funciona o mercado ou o cotidiano da tradução é a fonte da maioria dos medos do tradutor novato. Como ele vai saber o que esperar e como agir se não conhece os meandros da profissão?

Pesquise e leia muito sobre o que faz parte do mundo tradutório: como trabalha um tradutor, regime CLT e autônomo,  valores cobrados, produtividade e ergonomia, tipos de clientes/pagamentos, tipos e formatos de serviço, exigências e qualificações e por aí vai. Não deixe nada de fora.

2) Identifique seu medo

De que, exatamente, você tem medo? De não saber traduzir com qualidade? De ser seu próprio patrão? De não ter disciplina com o dinheiro? De negociar com clientes? Uma mistura de tudo isso?

Todos nós temos pontos fracos. Além de identificar o que mais aflige você, procure perceber  também em quais dessas áreas você teria mais dificuldade, para atacá-las primeiro.

Além disso, faça uma análise mais fria: seus medos têm fundamento real? Ter insegurança é normal em todo começo de carreira e algumas delas são perfeitamente contornáveis. Saiba diferenciar uma simples insegurança de uma dificuldade real. Ter dificuldades em determinadas áreas não significa que você não serve para ser tradutor. Quer dizer apenas que precisará preencher as lacunas que se apresentarem no início.

3) Prepare-se

Para preencher essas lacunas e se sentir realmente preparado para o mundo real da tradução, é preciso a) se informar e/ou b) se aperfeiçoar.

Se você tem dificuldades em entender como é ser um profissional autônomo, por exemplo, pode ler blogs de tradutores que falam sobre isso, consultar sites como o do Sebrae, conversar com um contador, falar com administradores e donos de negócios próprios que você conheça e por aí vai.

Se você sente que ainda precisa aperfeiçoar a língua com a qual vai trabalhar, inscreva-se num curso ou estude sozinho, leia muito, pesquise. Hoje o que não falta é material disponível!

4) Saia da bolha

Ler, pesquisar, se informar… Tudo isso é essencial, mas pode não ser o suficiente para se ter noção da realidade do mercado. Para ter uma ideia mais fundamentada sobre o cotidiano de trabalho do tradutor, só mesmo conversando com outros tradutores.

Participe de grupos e listas de discussão, converse e tire dúvidas com tradutores mais experientes, compareça a eventos, mostre-se interessado. É nesse momento, quando se aproxima dos colegas tradutores, que você deixa de ter uma visão romântica da profissão e passa a encará-la como uma verdadeira ocupação. E, consequentemente, perde medos oriundos da simples falta de informação.

Além disso, conversar com quem já está inserido no mercado ajuda a entender a ética da profissão, os principais problemas que os tradutores enfrentam, as melhores práticas do mercado, de quais ferramentas precisa um tradutor etc..

Atire-se!

Como ser tradutor? Roteiro básico para quem quer começar

Esses dias, uma leitora me escreveu interessada em iniciar na tradução.

Ela é advogada, especializada em direito civil, formada em francês e disse que adora ler e escrever. Além das dúvidas sobre como ingressar na carreira, ela também comentou: “Sou mãe de um menininho de 1 ano e preciso passar mais tempo com ele em casa, em vez de ficar o dia todo em um escritório que já não me acrescenta mais.”

Como e-mail dela envolve dúvidas comuns a muitos iniciantes (e a muitas mães), achei que seria legal responder aqui no blog mesmo. E como são várias coisas para comentar, dividi a resposta em duas partes.

1) Como ser tradutor? Roteiro básico para quem quer começar

2) Mãe e freelancer: o que aprendi até agora e algumas dicas

Para o artigo de hoje, fiz um pequeno roteiro com links de artigos que já foram publicados aqui e que podem ajudar o iniciante a se estruturar melhor para começar na profissão.

A segunda sai até semana que vem. Falarei sobre como foi o ano de 2013, em que pela primeira vez eu me dividi entre trabalho e maternidade. Darei algumas dicas sobre como produzir melhor, manter clientes e se concentrar nos objetivos profissionais.

Vamos, então, ao que interessa!

Como ser tradutor?
Roteiro básico para quem quer começar

PASSO 1 – Estudar

Para traduzir, não basta saber bem um idioma estrangeiro. Devemos, além do bom português, claro, saber as técnicas de tradução e tudo o que envolve a prática tradutória (pesquisas, terminologia, uso de ferramentas, tecnologias etc.). Para isso, é possível fazer cursos, que vão desde graduação e pós-graduação até cursos livres e de especialização.

O blog Ecos da Tradução traz uma lista de cursos oferecidos pela ABRATES (Associação Brasileira de Tradutores), mas há muitos outros oferecidos por universidades e escolas particulares.

PASSO 2 – Informar-se

Paralelamente a estudar, é preciso também saber como funciona o mercado de tradução, que tipos de clientes procurar (e onde) e em que nicho se especializar. Para saber se você tem o perfil adequado para ser tradutor, leia este artigo, que traz um questionário para ajudar a traçar algumas diretrizes.

Há ainda todas as questões que envolvem ser um profissional autônomo, nas quais dou uma pincelada aqui.

PASSO 3 – Integrar-se

Sugiro fortemente acompanhar, além de blogs e sites de tradução (o Guia do Tradutor e o Tradutor Profissional, por exemplo, estão recheados de informações relevantes), as listas e grupos de tradutores (hoje mais concentrados no Facebook), porque eles são ótimos termômetros de como funciona o mercado na realidade, das dificuldades comuns à maioria dos profissionais da área, de questões relativas a preços e métodos de cobrança, além de tratarem de mil outras coisas, como dúvidas de terminologia e indicações de dicionários/glossários.

No Facebook, gosto bastante desses três: Tradutores/Intérpretes, Tradutores, Intérpretes e Curiosos e Tradutor Iniciante, mas sei que há outros grupos bons também.

PASSO 4 – Participar

Todo ano são realizados eventos de tradução, grandes e pequenos. Você já está estudando e se informando sobre a profissão, então não perca a oportunidade de comparecer a eles, mesmo sem experiência na área. Poder ouvir os profissionais mais experientes e o que outros colegas têm a dizer é um modo de preparar o terreno e se sentir mais seguro sobre o setor. Afinal, fazer networking é essencial para ser bem sucedido na profissão. E, de quebra, você ainda pode conhecer pessoalmente muitas das pessoas que fazem parte dos grupos do Facebook.

Para se preparar melhor, você pode ler tudo o que já publiquei sobre networking aqui.

PASSO 5 – Buscar ou aproveitar uma especialização

A leitora que fez a pergunta já tem uma formação anterior, o que é uma excelente oportunidade, porque ela já começa “especializada” numa área. Como advogada, ela pode direcionar a busca por textos jurídicos que sejam de sua área de atuação e depois ir ampliando o leque conforme adquirir mais experiência.

Caso você não tenha uma formação prévia e sua formação seja na área de Letras/Tradução, por exemplo, a especialização acaba vindo com a prática. Provavelmente, no começo, você traduzirá textos das mais diversas áreas e ficará sabendo com quais delas tem mais afinidade. Com o tempo, é natural a gente ir filtrando os trabalhos/clientes de acordo com o que gostamos mais de traduzir (e que traduzimos melhor). Isso vale também para a leitora, se por acaso ela não goste mais de direito a ponto de não querer traduzir sobre isso.

Para saber mais sobre especialização, recomendo a leitura deste artigo e deste também.

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Há outros artigos sobre o início da carreira reunidos aqui. Não deixe de ler para complementar este pequeno roteiro. Boa sorte e bons trabalhos!

A tradução e os novos formatos de educação

Tenho pensado bastante sobre como muitos formatos da educação hoje não se aplicam a novas profissões, ou a profissões que se desenvolveram de tal maneira que os formatos mais rígidos não conseguiram acompanhar. Acho que podemos relacionar a tradução a este último caso.

Até um tempo atrás, fazer quatro anos de faculdade, pegar o diploma e ir trabalhar numa empresa era ponto pacífico em quase qualquer profissão. Até que nos vimos envoltos em tantas tecnologias novas e maneiras diferentes de nos comunicarmos e fazermos nossos trabalhos, que o tradicional escritório  foi sendo cada vez mais repensado.

Exemplo melhor que a tradução não há. Desde a formação propriamente dita, até o modus operandi da profissão. É preciso diploma para ser bom tradutor? Não. É preciso, sim, estudar, mas esse ramo de atuação nos permite tantas formas diferentes de fazê-lo que a formação universitária a que estamos acostumados nem sempre está em primeiro plano.

Isso me lembra um artigo que li há um tempo, chamado The End of College?, que, acredito, se aplica perfeitamente à situação do tradutor de várias formas. Gostei muito dessa observação final da autora do artigo, fazendo uma separação entre o estudar para adquirir conhecimento e o fazer treinamento para obter qualificação:

New organizations will be created that offer workplace credentials, and traditional colleges will be free to research and teach without worrying about job training. And this will be a great thing. Our grandkids will be able to save time and money by getting badges targeted to the specific areas in which they work. And if they do go to college, they will be able to enjoy a wonderful concept that has been almost entirely lost by our modern education system: To learn simply for the sake of learning.

No fundo, não é este um problema de muitas universidades que oferecem cursos superiores para tradutores? Essa mescla entre o conceitual e a prática, que nem sempre dá liga? O aluno sai do curso tendo tido pinceladas de teoria e prática insuficiente, não se aprofundando nem em uma coisa, nem em outra. Chega no mercado e sente que não está preparado para ele.

Felizmente, existem muitas maneiras de compensar essas lacunas. Os programas de mentoria, por exemplo, sempre me chamaram a atenção. Gostaria que no Brasil eles fossem mais difundidos, mas tendo a acreditar que a coisa está caminhando para isso. Aliás, você sabia que o ProZ já tem um programa desses?

Outra coisa é que, hoje, a internet é a grande (se não a principal) aliada na formação do tradutor. A quantidade de treinamentos, cursos, seminários, artigos, vídeos oferecidos na web é incrível (ótimos exemplos são os sites Khan Academy, Coursera e o próprio ProZ). O tradutor que usa recursos online já pode ser considerado um profissional arrojado, por cuidar de sua formação/atualização de maneira independente e, por vezes, inovadora. É como diz este artigo aqui sobre formação superior online:

(…) another area of concern was the ability of recent graduates to use online technologies (such as email, calendars, etc.) for professional purposes. Brick-and-mortar schools typically provide at least some exposure to these tools, but the training students receive is often sporadic and sometimes outdated. Online schools not only help students develop digital skills, but allow students to use a variety of cutting-edge utilities while gaining experience in turning their computer into a productivity tool. Further, simply choosing to attend college online demonstrates that you’re a computer-savvy individual who stays at the vanguard of technology.

Se pararmos para pensar, as possibilidades de aprendizado para um tradutor são praticamente infinitas! Quem está procurando se especializar, por exemplo, pode participar de eventos ou fazer cursos específicos das áreas pelas quais se interessa. Não é preciso ficar restrito ao estudo da tradução em si. Pelo contrário, quanto mais formos além na busca do conhecimento, mais capacitados seremos.

Por fim, creio que podemos tirar grandes vantagens do caráter versátil da nossa profissão. Não reclamemos sobre acompanhar as novas tendências. O tradutor de hoje, ele mesmo, já é uma nova tendência do mercado. Com tantos recursos e facilidades, não será difícil mantermos esse status.

Mais sobre especialização

Vocês devem ter lido o artigo que escrevi sobre como o iniciante pode buscar uma área de especialização.

Como um excelente complemento, li o artigo 6 steps to develop a translation specialization and make it work, do site Intercultural Zone.

Abaixo, destaco e comento algumas das partes que considerei mais interessantes:

Developing a new area of specialization is a serious commitment.

Sim, especialização é coisa séria. Uma vez que você escolheu uma área e se esforçou para conseguir trabalhar nela, por que você mudaria de ideia e começaria tudo de novo em uma outra área? Valorize seu tempo e seus esforços analisando os prós e contras seriamente antes de começar a jornada.

Is the demand for this area of specialization durable, or is it some fly-by-night trendy craze businesses will ignore in a year or two?

Cuidado com os modismos! Nunca escolha uma área de especialização somente porque ela é a bola da vez, ou porque todos falam que dá muito dinheiro. O calor do momento pode não ser duradouro.

Figure out what you need to invest in, what that is going to cost, how you are going to fund these investments, over what period of time.

Lembram-se de que falei sobre ir a eventos e fazer cursos da área de interesse? Tudo isso terá um custo. Então, encare esse custo como investimento. Investir pressupõe que teremos um retorno, certo? Não gaste seus recursos se não for para colher os frutos mais tarde.

Sniffing around is fun and important. Attending trade shows, demos, playing mystery customer and so on are great ways to discover the culture and the environment of the field you seek to become involved with. Who are the players? What are they like?

Uma área de especialização é formada, primeiramente, por pessoas. Ou seja, além do conhecimento técnico sobre o assunto, precisamos nos conectar com as pessoas envolvidas com ele. Quem são? Qual o perfil delas? Identifico-me com elas? Sinto-me bem entre elas? Lidamos com pessoas o tempo todo, então não subestime todas essas questões antes de se atirar de cabeça na especialização.

Find specialized colleagues for insider advice, mentoring, resources that didn’t hit your radar yet.

Se pararmos para pensar, temos modelos para tudo na vida. Sempre nos espelhamos em quem mais admiramos e isso é ótimo, pois aproveitamos as coisas boas que as pessoas têm nelas em nós mesmos. Podemos agir de forma semelhante na vida profissional, escolhendo bem nossos modelos e aprendendo com a experiência deles. E não somente com relação à àrea de especialização em si, mas também à ética e postura profissional.

Leiam o texto completo do Intercultural Zone, vale a pena!
6 steps to develop a translation specialization and make it work

Admirável mundo novo

Desde o início da minha vida profissional como tradutora, o máximo de literatura que traduzi foram os e-mails do meu ex-chefe e uma brochura sobre as Baianas de Acarajé. De resto, os textos que paravam nas minhas mãos iam ficando cada vez mais técnicos.

Até que no início desse ano comecei um curso de formação de tradutores voltado à literatura e filosofia. Além das leituras e discussões interessantíssimas sobre a tradução e o papel do tradutor, passamos também a traduzir pequenos parágrafos como exercício.

A partir de então, descobri como a tradução pode ser ainda mais incrível e admirável! Nunca havia pensado muito sobre a importância da etimologia ao traduzir, sobre simbologia e uma série de outras coisas que geralmente não fazem parte do universo das traduções técnicas. Sim, eu descobri um mundo totalmente novo!

Aliado a isso, chegou meu primeiro trabalho da área editorial. Com afinco, tento aplicar o que vejo no curso à minha tradução. Este livro, em parceria com um colega tradutor, não é Shakespeare. Mas tem sido um belo desafio desbravar a linguagem coloquial, os inúmeros adjetivos e gírias, as diferenças culturais e as referências obscuras para mim. E também uma oportunidade maravilhosa de sair um pouco das amarras da tradução técnica e de seus glossários sisudos.

O incrível de ser tradutor é isso: a cada novo trabalho, nos deparamos com coisas sobre as quais nunca pensamos. Começamos a prestar atenção àquilo que, antes sem importância, agora é fundamental para a qualidade do trabalho. Descobrimos em nós a capacidade de aprender sempre mais e a facilidade com que nos adaptamos a novas situações. É, realmente, descobrir uma América a cada dia!

Por isso que hoje, e todo dia, é um feliz dia do tradutor!

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