Por que ninguém me diz quanto devo cobrar?

Uma reclamação geral entre os iniciantes (e, às vezes, os nem tão inciantes) é a de que os colegas de profissão não abrem o jogo sobre os valores que praticam. Bem, primeiro temos que admitir que isso mudou muito depois que se criaram comunidades online e nas redes sociais, onde os tradutores conversam bem mais abertamente sobre o assunto. Basta prestar atenção às discussões e ver que muito já foi falado sobre preços.
Porém, o mais importante para os iniciantes é entender que, na verdade, não é que os tradutores mais experientes queiram esconder suas tarifas. A questão é que os preços estão sujeitos a muitas variáveis. Por exemplo:
Tempo de experiência
Quanto mais tempo o tradutor tem de mercado, maior o seu know-how e melhor sua cartela de clientes. Seu valor praticado certamente é diferenciado. Ou seja, pode não ser parâmetro para alguém com pouca ou nenhuma experiência.
Nicho e especialização
Valores sempre variam dependendo da área em que o tradutor atua. Até dentro de uma mesma área, os preços podem variar de acordo com o conteúdo, o cliente ou o projeto mais especificamente. Além disso, se o nicho em que o tradutor atua for mais ou menos técnico, ou se ele é um dos poucos profissionais que entendem do assunto, já é motivo suficiente para os valores mudarem.
Clientes diretos x Agências x In-house
Quem trabalha diretamente com o cliente recebe um valor diferente do que quem trabalha para agências, que recebe um valor diferente do que quem é tradutor interno (geralmente, assalariado).
Tipo de texto e área de atuação
Legendagem paga um valor diferente do que localização, que paga um valor diferente do que editorial e por aí vai. Textos altamente técnicos pagam um valor diferente do que textos literários, que pagam um valor diferente do que trabalhos acadêmicos e por aí vai.
Tradução x Versão x Revisão
O tradutor não cobra o mesmo valor para tradução, versão ou revisão. Ele deve cobrar de acordo com cada tipo de tarefa que irá realizar.
Idioma
Muito provavelmente, tradutores de línguas mais raras têm menos concorrência e mais liberdade para praticar valores mais altos.
Tabela do Sintra
Eu vejo a tabela do Sintra como uma grande incógnita, porque enquanto muitos colegas dizem que é impossível praticar os valores sugeridos, outros dizem que é plenamente viável (e que até ultrapassam esses valores). Parece que depende muito mais da atuação individual do tradutor. Sendo assim, você pode usar a tabela como referência quando e como quiser, tendo em mente que no começo da carreira pode ser um pouco mais difícil aplicá-la.
Outro fator que devemos lembrar é que, numa boa parte dos casos, é o cliente que dá o valor e cabe a nós aceitar, negar ou partir para uma negociação (do próprio valor, do prazo etc.).
Além disso tudo, podemos pensar no seguinte: os trabalhadores assalariados não ficam divulgando seus salários aos quatro ventos. Será que com os tradutores, ainda que em sua maioria autônomos, deve ser diferente? Claro que uma discussão em torno dos preços é importante para o nosso mercado, até para não nivelarmos os valores por baixo. Mas há mesmo motivo para divulgarmos nossos preços detalhada e indiscriminadamente?
De iniciante para iniciante
Blog bacana (em inglês) de uma tradutora iniciante para tradutores iniciantes: http://keychecktranslation.wordpress.com/
Colhendo os frutos de 2011

Instant change is a myth and a dangerous one at that. We are brought up on a culture that demands immediate gratification and sudden wealth. The flip-side of this belief is often a deep-seated, nagging frustration that our effort does not yield immediate results.
Quando a gente se propõe a dar novos rumos para a carreira, a palavra-chave é paciência. Mudanças podem ser feitas repentinamente, mas seus frutos se colhem apenas quando o ciclo do cultivo está completo. Não existe colheita antes do tempo certo.
Quem acompanha o Ao Principiante, talvez lembre desse meu artigo. Foi quando escrevi sobre as mudanças na minha vida profissional. Elas começaram a tomar forma não em fevereiro de 2011, quando o artigo foi publicado, mas sim em dezembro de 2010.
Ou seja, um ano se passou. Na época, eu mal conseguia imaginar onde estaria no dezembro seguinte. Mas ele chegou, e rápido. Em parte porque não esperei colher os frutos das minhas decisões no dia seguinte. Tivesse eu feito isso, talvez hoje achasse que o ano passou devagar.
É aqui que mora o segredo, e onde entra a frase que abre este artigo: resultados instantâneos raramente acontecem. Tudo que colhemos é fruto de esforço, suor, trabalho, decisões. E essas coisas levam tempo. Começam como sementes, que germinam e crescem para somente depois amadurecerem e caírem em nossas mãos. No meio tempo, exigem que reguemos as folhas, afofemos a terra, adubemos o solo.
Se você está começando sua vida como tradutor, ou se está num momento da carreira que exige mudanças, não esqueça que o ciclo do seu cultivo tem hora certa para terminar. Colha seus frutos quando estiverem maduros, é muito mais saboroso.
E eis aqui um dos frutos que andei colhendo este ano e gostaria de compartilhar com vocês. É de uma importância ímpar para mim, por ser meu primeiro trabalho na área editorial e, acima de tudo, o primeiro como freelancer. É a revisão (em conjunto com Alessandra Barros) da tradução de Martha G. da Cruz e Isabel Vidigal do livro Agulhas e Linhas, da Publifolha.
11 dicas para quem nunca participou de um evento profissional

No próximo fim de semana teremos, no Rio de Janeiro, a III Conferência Brasileira de Tradutores do ProZ.
Essa é a semana do corre-corre, de adiantar o trabalho e fazer os últimos ajustes para ir até o Rio. Em meio a tudo isso, lembrei como um evento pode ser estressante para quem é iniciante. Não pelos preparativos em si, mas pela inexperiência mesmo.
Por isso, compilei algumas dicas de como ter uma participação tranquila no seu primeiro evento profissional. Se você ainda não se sentiu preparado para ir no ProZ deste ano, comece desde já a se preparar para o do ano que vem!
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Faça as coisas com calma e antecedência
Se você ainda é estudante ou acabou de entrar no mercado, não precisa se afobar. Os eventos de tradução não vão deixar de existir. Não é preciso comparecer a um evento simplesmente porque todo mundo está comentando. Não pressione a si mesmo e só participe de um quando se sentir confiante e pronto para isso.
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Informe-se
Para se sentir pronto, coletar informações sobre o evento é essencial. Antes disso, porém, é preciso se informar sobre a própria profissão. O que falam por aí sobre a tradução? Leia sites, blogs e notícias sobre a área. Será muito mais fácil começar uma conversa ou entender uma palestra estando por dentro do mercado.
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Faça planejamento financeiro
Não esqueça de que os eventos acarretarão gastos com inscrição, hospedagem, alimentação e passeios.
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Faça os primeiros contatos nas redes sociais
Antes de pensar em ir a eventos, vá primeiro às redes sociais. Faça contatos, comece amizades, veja quem são as pessoas por trás da profissão. Quando você decidir participar de um congresso, vai ser muito mais fácil estar num lugar com rostos conhecidos.
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Participe primeiro de eventos informais
Sabe os profissionais que você conheceu no Facebook ou no Orkut? Geralmente eles organizam almoços e encontros informais para se conhecerem melhor. Antes de ir a um congresso ou conferência, tente se unir a eles em uma dessas reuniões mais descompromissadas. Fica mais fácil criar vínculos e afinidades.
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Vá em boa companhia
Às vezes, o maior problema mesmo é estar sozinho. Nem todo mundo tem jogo de cintura ou puxa conversa com facilidade. Para evitar esse tipo de ansiedade, combine com um colega que também vá ao evento de irem juntos. Você acabará fazendo amizade com os contatos dele e baixará a guarda, conseguindo fazer seus próprios contatos com mais tranquilidade.
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Seja você mesmo
É um velho clichê, mas funciona. Não tente impressionar ninguém querendo parecer o que não é. Cada um tem seu jeito, cada tipo de profissional tem um perfil. Siga as boas normas e confie no seu taco!
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Não peça emprego
Networking não serve para pedir emprego, serviço, estágio ou nada nessa linha. Significa estar no meio de profissionais que um dia podem se interessar pelo seu trabalho. Ou seja, num evento, o importante é que as pessoas vão saber que você existe, poderão ter mais informações sobre o seu trabalho e saber que tipo de profissional você é. O resto é consequência.
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Leve cartões profissionais
No congresso, as pessoas ficam sabendo de sua existência. Depois dele, elas precisam lembrar que você existe. Ter um cartão com seus dados e contatos é essencial. Não esqueça de pegar cartões também, claro!
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Saiba lidar com as frustrações
Infelizmente, coisas chatas também acontecem. Há pessoas antipáticas, há quem não se interesse em responder perguntas de iniciantes, há quem esteja ocupado demais com pessoas conhecidas para conversar com gente desconhecida. Mas você não está lá para perder tempo com quem não tem tempo para perder com você. Junte-se às pessoas com quem tem mais afinidade e veja o lado bom da coisa. Afinal, a gente também pode aprender sobre o que NÃO fazer ou como NÃO ser.
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Aproveite o evento
Não fique preocupado apenas em fazer contatos. Não esqueça que um congresso tem palestras, mesas redondas e muitas outras coisas. Participe ativamente, faça perguntas, anote as informações mais importantes. Os palestrantes são profissionais experientes que têm muito a ensinar. Não desperdice essa oportunidade de aprender com eles!
Mais sobre especialização
Vocês devem ter lido o artigo que escrevi sobre como o iniciante pode buscar uma área de especialização.
Como um excelente complemento, li o artigo 6 steps to develop a translation specialization and make it work, do site Intercultural Zone.
Abaixo, destaco e comento algumas das partes que considerei mais interessantes:
Developing a new area of specialization is a serious commitment.
Sim, especialização é coisa séria. Uma vez que você escolheu uma área e se esforçou para conseguir trabalhar nela, por que você mudaria de ideia e começaria tudo de novo em uma outra área? Valorize seu tempo e seus esforços analisando os prós e contras seriamente antes de começar a jornada.
Is the demand for this area of specialization durable, or is it some fly-by-night trendy craze businesses will ignore in a year or two?
Cuidado com os modismos! Nunca escolha uma área de especialização somente porque ela é a bola da vez, ou porque todos falam que dá muito dinheiro. O calor do momento pode não ser duradouro.
Figure out what you need to invest in, what that is going to cost, how you are going to fund these investments, over what period of time.
Lembram-se de que falei sobre ir a eventos e fazer cursos da área de interesse? Tudo isso terá um custo. Então, encare esse custo como investimento. Investir pressupõe que teremos um retorno, certo? Não gaste seus recursos se não for para colher os frutos mais tarde.
Sniffing around is fun and important. Attending trade shows, demos, playing mystery customer and so on are great ways to discover the culture and the environment of the field you seek to become involved with. Who are the players? What are they like?
Uma área de especialização é formada, primeiramente, por pessoas. Ou seja, além do conhecimento técnico sobre o assunto, precisamos nos conectar com as pessoas envolvidas com ele. Quem são? Qual o perfil delas? Identifico-me com elas? Sinto-me bem entre elas? Lidamos com pessoas o tempo todo, então não subestime todas essas questões antes de se atirar de cabeça na especialização.
Find specialized colleagues for insider advice, mentoring, resources that didn’t hit your radar yet.
Se pararmos para pensar, temos modelos para tudo na vida. Sempre nos espelhamos em quem mais admiramos e isso é ótimo, pois aproveitamos as coisas boas que as pessoas têm nelas em nós mesmos. Podemos agir de forma semelhante na vida profissional, escolhendo bem nossos modelos e aprendendo com a experiência deles. E não somente com relação à àrea de especialização em si, mas também à ética e postura profissional.
Leiam o texto completo do Intercultural Zone, vale a pena!
6 steps to develop a translation specialization and make it work
Oportunidade de estágio
O tradutor Carlos Amaral Jr. está procurando estagiário(a) para revisão e auxílio em tradução juramentada. O trabalho é interno em um escritório em São Paulo, no bairro do Ipiranga, próximo à estação de Metrô da Linha Verde. Se alguém tiver interesse ou puder indicar alguém, entre em contato no e-mail: amaral.jr@uol.com.br. Boa sorte!