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Tradutor: você ganha ou produz seu dinheiro?

Esses dias estive pensando sobre uma diferença essencial entre a cultura americana e a brasileira, evidenciada por duas expressões simples do inglês e do português:

make money X ganhar dinheiro

Há uma carga de autonomia completamente diferente nos verbos make e ganhar, e veremos como isso tem tudo a ver com o modo de encarar nossa profissão.

A primeira definição de make no Macmillan Dictionary é create, produce something, o que pressupõe que o sujeito é responsável pela ação. To make money significa gerar o próprio dinheiro por meio da minha oferta de serviço, do meu esforço. É o bom e velho “colocar a mão na massa”, “fazer acontecer”.

Então, qual a diferença entre “fazer dinheiro” e “ganhar dinheiro”? Ganhar significa “adquirir”, o que leva a entender que eu consigo ou conquisto algo que vem de fora, de uma outra fonte. Eu produzo esforço e trabalho, mas o dinheiro eu recebo (de outras mãos).

Às vezes acho que essa visão internalizada do dinheiro como um “presente” que se ganha é o que leva muitas pessoas a não sobreviverem na nossa profissão. A tradução é um ofício de autonomia, especialmente hoje, em que cada vez mais dispensamos as empresas e trabalhamos por nossa conta e risco. Faz muito mais sentido “fazer” nosso dinheiro, mas para isso precisamos parar de estender as mãos e mudar nosso esquema mental.

Como se faz isso? Primeiro, entendendo que ser tradutor exige ser uma mistura de administrador, contador, secretário, gerente comercial, técnico de informática e tantas outras coisas. Ou seja, que traduzir é apenas uma das facetas do nosso trabalho. Segundo, cultivando essas habilidades e as encarando como parte de um todo, e não como um fardo. Isso significa se livrar das amarras da mentalidade “trabalhador assalariado”, aquele que não decide nem apita nada, que não sabe quem são os clientes ou quanto a empresa fatura.

Ou seja: não fazemos parte de uma engrenagem. Nós somos a engrenagem. Antes de traduzir, fazemos captação de clientes, cultivamos contatos profissionais, buscamos os recursos necessários. Depois de traduzir, contabilizamos os valores, administramos as contas do mês, organizamos o escritório. Dessa forma, prefiro pensar que meu dinheiro ninguém me dá de presente. Eu simplesmente o mereço.

Autônomo de primeira viagem: o que fazer?

Muitas pessoas no início da vida de freelancer/autônomo ficam perdidas com relação a impostos, abertura de empresa e afins. Por isso hoje resolvi fazer um resumo sobre o assunto para os leitores do AP.

Lembrando que não sou especialista em contabilidade, então o exposto abaixo é basicamente tudo o que posso falar sobre isso para vocês. Espero que seja útil!

Sou obrigado a abrir uma empresa?

Não. Não ser pessoa jurídica, ou seja, não ter empresa aberta, não significa que o tradutor está trabalhando na ilegalidade, desde que ele declare seus ganhos no Imposto de Renda e pague seus impostos, bem como outras taxas que incidirem sobre o seu trabalho, como o ISS (Imposto Sobre Serviço).

Então, quais são minhas opções?

Existe o RPA, que é o recibo de pagamento a autônomo, a nota da Prefeitura, ou a opção de não passar recibo/nota e recolher os impostos pelo Carnê-leão.

A maioria das agências não exige nota, nem RPA. Já os clientes diretos (empresas), que antigamente se satisfaziam com o RPA, hoje só andam aceitando nota fiscal.

Se você ainda não tem condições de ser pessoa jurídica e emitir nota fiscal, pode trabalhar para agências nacionais e até mesmo internacionais e pagar seus impostos por meio do Carnê-leão, além de precisar verificar na Prefeitura de sua cidade sobre o pagamento do ISS.

Carnê-leão

Recolhemos pelo Carnê-leão quando recebemos de pessoa física, porque nesse caso a pessoa paga o valor integral do serviço direto para nós, sem reter o imposto. Ou, então, quando recebemos do exterior, pelo mesmo motivo.

Se for uma empresa que está nos pagando, normalmente ela nos repassa o valor já com os impostos descontados. Nesse caso, é sempre bom que fiquemos com um recibo comprovando o valor que nos foi repassado com o desconto. Caso não tenhamos, no final do ano é preciso pedir um informe para as empresas com as quais trabalhamos, a fim de comprovar que recebemos os valores já descontados (senão pagaremos o imposto duas vezes).

Como fica a aposentadoria?

Quem tem empresa aberta faz a contribuição compulsória para o INSS, mas ela não é obrigatória para pessoa física. No entanto, a pessoa física pode pagar o carnê à parte. Outras pessoas preferem investir somente na previdência privada, e há quem faça os dois.

O tradutor pode abrir empresa pelo SIMPLES?

Infelizmente, não. Veja o que diz o Sebrae, em Informações Fiscais e Tributárias:

O segmento de tradução de textos, assim entendido como os serviços de tradução, de interpretação e similares, não poderá optar pelo SIMPLES Nacional – Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (instituído pela Lei Complementar nº 123/2006), por expressa vedação legal emitida pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, através do artigo 17, inciso XI, uma vez que configuram a prestação de serviços decorrentes do exercício de atividade intelectual, de natureza técnica, científica, desportiva, artística ou cultural, que constitua profissão regulamentada ou não. A vedação da opção também foi apresentada na Solução de Consulta COSIT nº 10, de 20/03/2008.

Quem pode me orientar?

Marcando uma consulta na Receita Federal, você pode  obter boas informaçõesa sobre recebimentos e recolhimentos referentes a trabalhos feitos para o Brasil e o exterior, por exemplo. Informe-se na Prefeitura sobre nota e sobre o ISS. Procure também um contador de muita confiança e consulte pelo menos uns três para ver qual entende melhor do assunto. Assim, você pode se informar com calma e segurança sobre abrir a sua própria empresa.

Onde posso ler mais sobre o assunto?

Receita Federal:
Pagamento do Imposto de Renda Pessoa Física

Finanças práticas:
Como abrir uma empresa?
Programe-se para a temporada do IR 2012 e evite correria

Você S.A.
Traduzindo a previdência
O plano ideal para você

Efetividade.net:
Como declarar o imposto de renda de autônomos

Mais sobre especialização

Vocês devem ter lido o artigo que escrevi sobre como o iniciante pode buscar uma área de especialização.

Como um excelente complemento, li o artigo 6 steps to develop a translation specialization and make it work, do site Intercultural Zone.

Abaixo, destaco e comento algumas das partes que considerei mais interessantes:

Developing a new area of specialization is a serious commitment.

Sim, especialização é coisa séria. Uma vez que você escolheu uma área e se esforçou para conseguir trabalhar nela, por que você mudaria de ideia e começaria tudo de novo em uma outra área? Valorize seu tempo e seus esforços analisando os prós e contras seriamente antes de começar a jornada.

Is the demand for this area of specialization durable, or is it some fly-by-night trendy craze businesses will ignore in a year or two?

Cuidado com os modismos! Nunca escolha uma área de especialização somente porque ela é a bola da vez, ou porque todos falam que dá muito dinheiro. O calor do momento pode não ser duradouro.

Figure out what you need to invest in, what that is going to cost, how you are going to fund these investments, over what period of time.

Lembram-se de que falei sobre ir a eventos e fazer cursos da área de interesse? Tudo isso terá um custo. Então, encare esse custo como investimento. Investir pressupõe que teremos um retorno, certo? Não gaste seus recursos se não for para colher os frutos mais tarde.

Sniffing around is fun and important. Attending trade shows, demos, playing mystery customer and so on are great ways to discover the culture and the environment of the field you seek to become involved with. Who are the players? What are they like?

Uma área de especialização é formada, primeiramente, por pessoas. Ou seja, além do conhecimento técnico sobre o assunto, precisamos nos conectar com as pessoas envolvidas com ele. Quem são? Qual o perfil delas? Identifico-me com elas? Sinto-me bem entre elas? Lidamos com pessoas o tempo todo, então não subestime todas essas questões antes de se atirar de cabeça na especialização.

Find specialized colleagues for insider advice, mentoring, resources that didn’t hit your radar yet.

Se pararmos para pensar, temos modelos para tudo na vida. Sempre nos espelhamos em quem mais admiramos e isso é ótimo, pois aproveitamos as coisas boas que as pessoas têm nelas em nós mesmos. Podemos agir de forma semelhante na vida profissional, escolhendo bem nossos modelos e aprendendo com a experiência deles. E não somente com relação à àrea de especialização em si, mas também à ética e postura profissional.

Leiam o texto completo do Intercultural Zone, vale a pena!
6 steps to develop a translation specialization and make it work

Especialização

Como ser um tradutor especializado? Quando se especializar? A especialização é obrigatória?

Essas são perguntas que muitos tradutores iniciantes se fazem. As respostas, como sempre, não vêm prontas. Como já sabemos, a tradução, sendo um mercado tão variado e extenso, permite trilhar diversos caminhos. Não é diferente com a especialização. Vejamos, então, quais são os diferentes rumos que levam à especialização e o que ela significa para o tradutor.

Ter formação em outra área

Quando uma pessoa escolhe ser tradutora depois de ter se formado em outra área, especializar-se é um caminho natural. Um engenheiro que vira tradutor já tem o conhecimento técnico necessário para traduzir textos da área, pois vivenciou experiências nela e se acostumou com os termos e jargões do setor. Ao buscar novos clientes, ele vai se concentrar naqueles que estejam envolvidos com a indústria. Seu trabalho será mais fácil quanto à pesquisa, porque com os conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação, não será necessário procurar todos os termos técnicos e específicos do texto. No geral, sua remuneração será melhor, já que nem todos podem oferecer a qualidade técnica que ele oferece. Ao mesmo tempo, é preciso lembrar que a tradução em si também exige conhecimentos específicos e que não basta conhecer engenharia e inglês para traduzir com qualidade. É preciso aperfeiçoar continuamente as habilidades com a língua e o texto.

Buscar áreas de afinidade

Para quem escolheu a tradução como primeira formação, o caminho para a especialização é um pouco mais longo. Com os conhecimentos linguísticos e tradutórios em mãos, o tradutor iniciante depara-se com um mundo de áreas e assuntos para serem traduzidos. O que acontece é que o tradutor iniciante começa traduzindo de tudo. Não é o ideal, mas é uma realidade que não se pode negar. Afinal, como ele vai saber quais são os melhores tipos de texto para o seu perfil? O principiante é, antes de tudo, um generalista. Depois de ter tido contato com inúmeros textos, ele começa a se identificar com alguns tipos. A partir dessa descoberta é que ele vai buscar clientes que estejam inseridos nos setores de que mais gosta. Vale também fazer cursos sobre o(s) assunto(s) de maior interesse e participar de eventos da(s) respectiva(s) área(s). Não é um passo fácil, é preciso ter paciência. Mas mantendo o foco, as coisas acontecem.

Acasos e coincidências

Outro modo de se especializar é o puro acaso. Às vezes começamos a traduzir para um cliente que manda sempre um certo tipo de texto. Ele gosta do nosso trabalho e continua mandando textos sobre aquele assunto. Vamos acumulando conhecimentos sobre a área, formando glossários, e fica cada vez mais fácil traduzi-la. Está dado o primeiro passo para a especialização. Daí podemos passar a procurar outros clientes com as mesmas necessidades. É claro que pode acontecer de fazermos um bom trabalho em determinada área, ma simplesmente não gostarmos dela. Essa é a hora de mudar o foco e tentar seguir outro rumo.

Especializar-se no tipo de texto ou no tipo de tradução?

Precisamos lembrar também que além de diferentes tipos de texto, há diferentes tipos de tradução. O que você gostaria de fazer: legendar, traduzir livros de ficção, interpretar em eventos, fazer localização de software? São escolhas importantes, pois nem sempre um bom tradutor é um  bom intérprete, por exemplo. São tipos de tradução que exigem habilidades e técnicas distintas. Mas também não são áreas excludentes. Muitos tradutores de legenda também traduzem textos técnicos, muitos intérpretes fazem tradução escrita, e por aí vai. Escolher entre tipo de texto e tipo de tradução é uma escolha conjunta, que vamos fazendo conforme adquirimos mais experiência.

A especialização é obrigatória?

Aqui vai uma opinião sincera: nada é obrigatório. Existem, sim, caminhos que são mais naturais, ou mais fáceis, ou mais óbvios. O importante é traduzir com qualidade. Dizer “eu gosto de traduzir de tudo” é uma cilada, porque até esse “tudo” tem um limite. Dificilmente uma pessoa gosta tanto de física nuclear quanto de religiões orientais. Se você não quer se especializar em um único assunto, não é tanto um problema. Apenas delimite o seu “tudo”. Escolha algumas áreas de que gosta mais e concentre-se nelas.

Vantagens e desvantages da especialização

Quando o tradutor se “ultra-especializa” e fica conhecido no setor por isso, dificilmente os clientes irão procurá-lo para fazer outros tipos de tradução. De certo modo, fechar muito as opções pode ser limitador. É uma desvantagem querer se aventurar em outras áreas e não ter a chance. Por outro lado, a vantagem do tradutor bem especializado é não ter que lidar com uma ampla concorrência e poder elevar o patamar de seus preços consideravelmente. Ele sendo bom, os clientes pagarão. Mas vale lembrar que se especializar visando somente o lado financeiro pode ser um tiro no pé. Ninguém é feliz fazendo o que não gosta, só para ganhar bem. Dinheiro é consequência, não causa.

CAT tools: afinal, o que são?

Algumas pessoas têm escrito perguntando sobre as CAT Tools. Essas ferramentas são muito importantes para os tradutores e facilitam nosso trabalho de inúmeras maneiras. Não sou uma expert e nem trabalho com todas as CATs do mercado, então meu objetivo com esse post não é dar informações técnicas sobre elas, mas sim esclarecer o que são e como elas podem nos ajudar. Para exemplificar, vou usar algumas imagens do Wordfast, uma das diversas CAT tools existentes e a que mais uso. Vamos lá?

O que são CAT Tools?

Computer-assisted translation tools (ou computer-aided translation tools) são ferramentas (mais especificamente, softwares) que auxiliam o processo da tradução feita por um humano.

Para que servem?

Ao contrário do que muitos imaginam, as CAT tools não fazem o trabalho no lugar de um tradutor, ou seja, não fornecem traduções automáticas [1]. Elas apenas são auxiliares dessa tarefa. O que elas automatizam é a parte manual do trabalho, ou seja, agilizam a digitação, facilitam a consulta de glossários e permitem criar um banco de dados de traduções, entre muitos outros recursos.

Como funcionam?

As CATs são softwares que instalamos no computador e não precisam da internet para serem usadas [2]. Veja abaixo os recursos básicos das CATs:

  • Oferecem visualização muito melhor do texto fonte, sem precisar alternar janelas ou traduzir por cima do original. Com a CAT, você tem os dois textos na mesma janela, um embaixo ou ao lado do outro, e o texto original é dividido em segmentos. Veja abaixo (clique na figura para ampliar):
Interface do Wordfast
  • No geral, não é preciso se preocupar com a formatação, pois a CAT já mantém a formatação do texto original na tradução.
  • Poder criar glossários e consultá-los enquanto se traduz. O Worfast, por exemplo, tem a opção de um glossário dinâmico; bastam alguns comandos para inserir termos no glossário ou para inserir um termo diretamente na tradução.
Ativação do glossáro no Wordfast
O destaque azul significa que a palavra está no glossário. Basta um comando para inserir a tradução dela na sua tradução.
  • Poder criar memórias de tradução. O grande lance das CATs é que tudo o que você traduz fica armazenado em uma memória. Caso você precise traduzir um texto com partes iguais a um texto que você já traduziu, não é preciso fazer tudo de novo. A CAT reconhece que um segmento já foi traduzido e o copia para você.

Por que é melhor traduzir com uma CAT tool?

Porque uma ferramenta como essa melhora muito a produtividade e a qualidade de nosso texto.

Mas como, se não é ela quem traduz?

As CATs nos ajudam a manter a consistência durante toda a tradução, já que podemos consultar termos nos glossários e inseri-los ao longo do texto. Com isso, não precisamos apenas confiar na nossa memória, ou então ficar voltando ao início do texto para verificar que palavra usamos para determinado termo no original. Isso resulta em otimização do tempo, pois avançamos mais rápido já que não precisamos fazer essas interrupções.

Além disso, ter todas as nossas traduções armazenadas significa poder traduzir textos com partes semelhantes muito mais rapidamente e sem grandes variações de termos. Outra vantagem de ter uma memória de tradução é avaliar o desenvolvimento de nosso trabalho, pois temos nossos textos antigos para avaliar nossas escolhas e melhorá-las ao longo do tempo.

É obrigatório traduzir com uma CAT tool?

Não. Inclusive, as CATs ajudam imensamente os tradutores técnicos, mas nem sempre são tão úteis para quem traduz literatura (o que não quer dizer que tradutores literários não podem usá-las ou que elas não sejam vantajosas em algum momento para eles). Quero dizer que nada é verdade absoluta, mas quanto mais pudermos oferecer para o mercado, melhor. E quanto mais pudermos ser rápidos e produtivos, mais o mercado nos quer.

Estou começando, qual a melhor maneira de investir nas CATs?

A melhor maneira é não se afobar. Primeiro, é preciso avaliar o que o mercado tem exigido de você. Se você nunca mexeu com CATs, a melhor maneira é usar as versões gratuitas para se acostumar com elas. Depois, se você preferir, pode fazer um curso da CAT à qual melhor se adaptou e comprá-la. Há CATs mais completas (e mais caras), que se alinham com as extensões de outras CATs, mas talvez você vá precisar delas em um outro momento. Portanto, não pule etapas. Entenda primeiro como elas funcionam, se acostume a lidar com elas, veja o que os clientes têm pedido a você [3] e depois avalie quais valem o investimento.

Onde posso achar informações mais detalhadas sobre as CATs?

Translators Training: esse site tem vídeos gratuitos que mostram um pouco sobre cada CAT tool. É ótimo para ver como são as interfaces das CATs.

Cattools.org: esse link traz breve explicação sobre as CATs, uma listinha de CAT tools e o resumo de quatro delas.

Tradução via Val: O Tradução via Val traz muitos artigos sobre CATs e sobre como lidar com elas. O primeiro texto do link é bem legal para quem está começando.

[Atualização] O amigo William Cassemiro deu a dica para esse ótimo link, com uma lista bem completa de CATs: http://www.traduzioni-inglese.it/tools-for-translators.asp?resource=Computer%20Aided%20Translation%20Tools

Outros links interessantes:

http://www.metatexis.com/cat.htm

http://en.wikipedia.org/wiki/Computer-assisted_translation

http://translationjournal.net/journal//34CAT.htm

***

[1] O Wordfast tem uma opção de acoplar o tradutor automático do Google. Porém, essa é uma prática anti-ética e totalmente mal-vista no mercado. Um tradutor não é pago para jogar um texto no tradutor automático e dizer que foi ele quem fez. Além disso, todo texto traduzido automaticamente é facilmente detectado, pois ele sempre tem erros grosseiros e muitas inconsistências. Tenho certeza de que você não quer correr o risco de queimar seu filme no mercado dessa maneira. 😉

[2] Há, agora, o Wordfast Anywhere, ferramenta simplificada para quem deseja trabalhar online: http://www.freetm.com/

[3] Muitos clientes exigem que você trabalhe em determinada CAT. Esse assunto dá pano para a manga. O ideal mesmo é que nós, tradutores, tenhamos a liberdade de escolher com quais ferramentas queremos trabalhar, mas nem sempre isso acontece. Você pode ler mais sobre esse assunto (e sobre vários recursos das CATs) aqui: http://pribi.com.br/traducao/traducao-quem-decide-com-qual-ferramenta-vou-trabalhar

O começo do começo

O que fazer com o conhecimento de um idioma estrangeiro mas nenhum conhecimento sobre ou experiência em tradução?

A partir de um e-mail que recebi, hoje gostaria de falar sobre o começo do começo, aquele período entre a nossa decisão de nos tornarmos tradutores e o colocar a mão na massa efetivamente. É o espaço de tempo para reunirmos os requisitos mínimos que a profissão nos exige para que a pratiquemos com técnica, qualidade, confiança e conhecimento de causa.

Como já disse em outras ocasiões, há muitas maneiras de começar. Porém, conhecer bem uma língua estrangeira, ao contrário do que se pode pensar, não é a condição principal para ser tradutor, mas sim o quesito mais básico. O mesmo pode ser dito da língua materna: uma vez que, normalmente, traduzimos do idioma estrangeiro para o nosso próprio idioma, nada mais importante do que ter um excelente domínio dele.

Ou seja, ainda que uma pessoa tenha conhecimentos profundos de seu próprio idioma e de um idioma estrangeiro, eles não são suficientes para que ela seja (boa) tradutora. A prática da tradução exige umas tantas outras habilidades com as quais uma pessoa precisa se identificar para poder se intitular, realmente, tradutora. Vejamos algumas delas:

Ter curiosidade e saber pesquisar: encare essas habilidades como o instinto básico de sobrevivência do profissional de tradução. Combinadas, elas são a bússola do tradutor que,  lidando com os mais variados tipos de assunto e não conhecendo a fundo todos eles, precisa fazer o seu próprio mapa e achar as melhores saídas.

Ser amigo das novas tecnologias: hoje o tradutor é um dos profissionais que mais precisam acompanhar o ritmo das mudanças tecnológicas, principalmente as que ocorrem no mundo da computação. O computador não serve apenas para ler o original e digitar a tradução. É nele que vamos inserir todas as ferramentas para deixar nosso trabalho mais ágil e com mais qualidade. E é na internet, principalmente, que vamos interagir com outros profissionais da área, enviar e receber arquivos e prospectar novos clientes.

Ser bom administrador: ser freelancer exige que o tradutor não apenas se preocupe com a tradução em si, mas que ele gerencie bem seus projetos profissionais e sua vida financeira. Saber administrar prazos, prospectar clientes com frequência e entender sobre impostos e afins são coisas das quais não se pode fugir, por mais chatas que sejam para alguns de nós.

Se você acha que tem essas qualidades, ou que pode adquiri-las, o próximo passo é saber como se preparar antes de começar, de fato, a prospectar clientes e traduzir.


ESTUDOS

Fazer um curso universitário ou um curso de formação para tradutores: como sabemos, ainda que haja cursos universitários de tradução, o diploma de nível superior (ou qualquer outro) não é exigência para que pratiquemos a profissão. Há cursos de especialização mais direcionados para a prática da tradução em si, como o da Alumni e o do Daniel Brilhante Brito. Inclusive, se você já tem uma outra formação, como engenharia, química, história, etc., fazer um curso mais curto é o ideal. Com os conhecimentos técnicos da sua área de formação e da área da tradução,  você já pode partir para um nicho mais fechado do mercado.

Cursos específicos e de enriquecimento curricular: a tradução engloba muitas áreas de atuação, como legendagem, interpretação, tradução literária, tradução técnica, etc. Por isso, se você se interessa mais por umas do que por outras, fazer cursos de aperfeiçoamento é a saída para procurar oportunidades e atuar nessas áreas com o conhecimento necessário. Há excelentes cursos e professores em todas elas e, com as facilidades da internet, não é preciso nem sair de casa. Eu, por exemplo, fiz o curso de legendagem da Carolina Alfaro online e gostei muito.

Cursos “técnicos”: são muitas as ferramentas que auxiliam o trabalho do tradutor no dia-a-dia. Muitas delas podem ser aprendidas com a utilização na prática, mas outras requerem mais conhecimentos técnicos ou específicos. É o caso das CAT tools (computer-assisted translation tools), para as quais fazer um curso poupa tempo e dá mais suporte do que o autodidatismo. As CAT tools são várias e tem muita gente boa dando cursos sobre elas. Eu fiz o de Wordfast com o Roger Chadel, o que foi meu ponto de partida para, hoje, traduzir quase exclusivamente com as CAT. Aliás, elas serão o assunto do próximo post, não percam.

Também é bom manter sempre em dia os estudos da língua estrangeira e do português.

LEITURAS E NETWORKING

Mais uma vez, a internet mostra todo o seu potencial para a carreira do tradutor. Hoje, é muito mais fácil estar em contato com colegas de profissão, ler o que profissionais mais experientes têm a dizer e ficar sabendo de eventos presenciais que ocorrerão ao longo do ano. Parece que sempre bato na mesma tecla, mas é a mais pura verdade: ler blogs e participar de listas e comunidades sobre tradução é importantíssimo para entendermos como se comporta o nosso mercado e quais são as práticas mais comuns entre os tradutores. Ainda que seja preciso separar o joio do trigo, todas essas leituras nos enriquecem muito como profissionais. Vale muito separar um tempo do dia ou da noite para se manter atualizado. Além de ler, comentar nos blogs e listas é uma ótima oportunidade de fazer contatos na área e, assim, futuras parcerias poderão surgir. Mas, além da internet, os livros também são boas pedidas. Os do Paulo Rónai são verdadeiras obras-primas que tratam da tradução sob diversos prismas. O Fidus Interpres – a prática da tradução profissional, bem mais recente, é um excelente manual prático sobre a profissão.

INVESTIMENTOS

Investir em ferramentas essenciais à prática da profissão é um modo inteligente de começar. No início, o mínimo é ter um computador com bons requisitos e conexão à internet, dicionários monolíngues e bilíngues, gramáticas e pelo menos uma CAT tool (acho o Wordfast ideal para quem está começando. Tem versão gratuita, versão online e a versão paga é a mais barata do mercado). Se você passa muito tempo fora de casa, ter internet no celular ajuda a não perder oportunidades por não ter respondido prontamente a e-mails de clientes.

***
Para facilitar, eu resumiria tudo isso na seguinte autoavaliação:

 Tenho as qualidades mínimas para ser um bom tradutor?

  • sou curioso?
  • gosto de ler e pesquisar?
  • me dou bem com as tecnologias atuais?
  • tenho perfil para ser um profissional liberal?

Tenho os conhecimentos necessários para traduzir?

  • tenho excelente domínio da minha língua materna?
  • tenho conhecimentos profundos de uma língua estrangeira?
  • tenho curso universitário ou fiz algum curso específico de tradução?
  • tenho outra formação ou experiência profissional que pode ser meu nicho de tradução?
  • fiz algum curso para o nicho do mercado em que desejo trabalhar – legendagem, literatura, etc.?
  • sei usar as ferramentas de tradução que o mercado exige?
Conheço o mercado da tradução?
  • leio a respeito de como os profissionais de tradução atuam?
  • tenho contato com profissionais mais experientes?
  • conheço as práticas mais comuns dos profissionais de tradução?
  • uso a internet para me comunicar com outros tradutores?
  • quero/gosto de participar de congressos, eventos, seminários sobre o assunto?
Fiz os investimentos mínimos para começar a traduzir?
  • tenho computador com conexão à internet?
  • tenho pelo menos uma CAT tool?
  • tenho dicionários, gramáticas e livros para fazer minhas pesquisas?

Apesar desse post ter sido longo, há muitas outras coisas que ainda podem ser discutidas e avaliadas antes de se começar a traduzir realmente. A ATA – American Translators Association fez um questionário exaustivo sobre o que é preciso para ser um tradutor bem-sucedido. Certamente que, para quem mal começou, muito do que está contido no questionário são passos para se dar mais adiante. Mas creio ser uma boa maneira de ter uma visão global do que se espera de um profissional de tradução. E talvez até usar o questionário como um guia para se estabelecer com mais credibilidade como tradutor.

Por fim, para complementar esse post, vocês também podem ler o
Como? Quando? Onde? – Maneiras de começar.

Boa sorte!


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