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Teoria de tradução

Conhecem o site do Anthony Pym? Ótimos materiais sobre teoria de tradução: http://usuaris.tinet.cat/apym/

O estresse de cumprir o prazo com qualidade

Olá, pessoal!

Estou de volta com a dúvida de uma leitora que recebi por e-mail. Tenho certeza de que, senão todos, a maioria dos iniciantes passam pela mesma coisa, então resolvi responder por aqui.

Se vocês estão passando por dificuldades semelhantes, seria muito valioso se relatassem suas experiências lá nos comentários. Em fases complicadas, é muito bom saber que não estamos sozinhos, não é?

Fiz o curso de Letras/Tradução (Francês) e possuo o curso completo da Aliança Francesa, portanto posso dizer que tenho um bom conhecimento da língua estrangeira da qual traduzo (o francês) e um bom conhecimento também do português. Recentemente fiz também um curso de Especialização em Tradução. Posso dizer que conheço bastante a teoria da tradução. Entretanto quando se trata de pôr isso em prática no Mercado de Trabalho da Tradução, a coisa se torna muito complicada. Já tive uma curta experiência em agência de tradução e tive muita dificuldade de conciliar a qualidade do trabalho à quantidade de laudas que tinha que produzir por dia. Como cumprir o prazo de entrega é sempre muito importante, acabava pecando na qualidade do meu trabalho. Acabei não suportando a frustração de não estar realizando um bom trabalho (como se aprende na Universidade) e o trabalho sob pressão. Como posso resolver esta questão, já que não gostaria de abandonar anos de estudo e dedicação à Tradução e partir para outra área.

Essa, sem sombra de dúvidas, é uma das maiores frustrações dos tradutores. Acredito que todo tradutor já passou ou irá passar por isso um dia. Não há uma fórmula mágica para responder a essa pergunta, mas posso deixar aqui minha opinião com base em experiências passadas.

A qualidade do trabalho é sempre mais importante do que o prazo. É nisso que devemos acreditar, ainda que as agências ou outros clientes digam o contrário ou queiram nos forçar a acreditar que não é. A qualidade do trabalho é o nosso produto final e nosso cartão de visitas, é o que fica. Ninguém, depois que você entrega uma tradução, pensa no tempo que você teve para fazer, nem nas condições, nem no prazo. E, consequentemente, ninguém vai relevar erros e inconsistências que aparecerem como resultado disso.

Por outro lado, como devemos proceder quando tantas agências exigem de nós prazos irreais? Como lidar com condições nada razoáveis? Minha opinião é: negociar. Sempre.

Primeiro, tenha uma ideia de quanto você consegue produzir por hora, por exemplo. Quantas palavras você consegue traduzir por hora? Qual o seu rendimento para tradução, versão e revisão? Quantas horas você consegue ou tem disponível para trabalhar por dia? Sabendo como é sua produção e seu ritmo, fica mais fácil avaliar se o prazo que a agência está requisitando está dentro ou fora dos padrões (o seu e o do mercado – se uma agência pedir 30 mil palavras em um dia, não é só você que não conseguirá cumprir essa meta, mas provavelmente nenhum outro tradutor).

Não há problemas em tentar negociar o prazo. Simplesmente explique que o prazo pedido não é possível de ser cumprido e diga em que data poderá entregar a tradução (faça isso sempre ANTES de confirmar o trabalho; renegociar prazos durante o trabalho, só em casos excepcionais). Muitas vezes, os iniciantes têm medo de contrariar a agência e de perder o trabalho. Tratando do assunto com cordialidade (pois negociar não significa xingar o cliente porque ele não tem noção do que está pedindo, embora às vezes dê vontade ;)) é possível ainda conseguir o trabalho. A agência pode querer passar a outra pessoa, e a gente precisa aceitar que isso também acontece. Mas também precisa entender que nem sempre essas negativas são ruins para nós. Pode ser que apareça uma outra oferta de trabalho com melhores condições (que você não poderia aceitar caso estivesse se descabelando para cumprir o prazo da outra). Ou que essa mesma agência volte para você futuramente com melhores prazos, pois percebeu que não adiantou passar para outro tradutor, que aceitou as condições mas fez um trabalho muito ruim.

Outro ponto: não somente as agências podem fazer exigências. O tradutor também pode. O prazo é apertado e o arquivo está em PDF difícil de converter? Peça que mandem o arquivo já convertido e formatado para poupar tempo da tradução (e que o prazo só comece a correr a partir do recebimento deste arquivo).  São pequenas (grandes) coisas como essa que mostram para os clientes que somos profissionais e que não podemos aceitar qualquer condição sem que respeitemos as nossas próprias.

Quando saímos do meio acadêmico, encontramos um mundo muito diferente lá fora. Eu também senti isso e, com medo, demorei para me arriscar no mercado. Acho que já contei aqui que depois de ter me formado em tradução fui fazer jornalismo, e hoje vejo que foi por fuga, por insegurança. Justamente pelo fato de não saber encaixar as teorias na prática. Então, por experiência própria, eu digo: não é preciso desistir da tradução. O medo é normal no começo e, com o tempo, a gente vai se acostumando com o mercado, com o que ele exige de nós e com o que podemos exigir dele também. E isso em qualquer profissão.

As teorias que aprendemos na faculdade são ótimas porque ficam internalizadas em nós. São elas que nos dão noção do que podemos e devemos fazer na hora de traduzir, que aperfeiçoam nossa tradução. Porém, as teorias estão na base do que somos como tradutores, mas constituem uma parte pequena da nossa totalidade. Ou seja, um tradutor é a soma do que ele aprendeu e do que ele pratica como profissional perante o mercado, os colegas de trabalho, os clientes, as agências.

Todos nós, experientes ou não, temos que conciliar tudo isso no cotidiano da profissão. Muitas vezes é frustrante, a gente se decepciona, se desanima. Mas, com o tempo, conseguimos encontrar o equilíbrio entre todas essas coisas. É difícil de acreditar nisso quando estamos no meio do turbilhão. Mas persevere e você verá que, assim como muitos, você também vai conseguir.

Um pouco de teoria – tradução e paráfrase

Embora quem está de fora não tenha ideia, a vida de tradutor é bastante corrida. Por isso, muitas vezes é difícil parar para pensar em teoria quando a prática exige tanto de nós. Por outro lado, é sempre bom reciclarmos os conhecimentos teóricos do nosso ofício, porque muitas vezes são eles que nos livram de certas ciladas e deixam nosso trabalho mais requintado.

Um dos assuntos que pesquisei em 2010 foi a paráfrase. Você já parou para pensar no que é uma paráfrase e o que ela tem a ver com tradução? Com um exemplo sobre a Bíblia, o vídeo abaixo pode esclarecer por que é importante fazer essa diferenciação. John Piper ainda cita outro conceito clássico, a equivalência dinâmica.

 

E não são apenas esses dois conceitos que podem se misturar. Por conta do lançamento da Nova Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, em 2009, a Folha juntou as definições de reelaboração, paráfrase, tradução, paródia, plágio e retificação em um pequeno artigo (aqui), que julguei interessante colocar nos meus favoritos.

A propósito, se você quiser saber mais sobre plágio de traduções, recomendo o site da Denise Bottmann, o Não Gosto de Plágio. O trabalho da Denise é primoroso e muito valioso para a comunidade dos tradutores!

E, para terminar, aconselho a leitura de um artigo meio antiguinho (2008), mas muito interessante, chamado Papel e Desserviço da Paráfrase em Tradução, de Eduardo Ferreira, no jornal literário Rascunho.

Boas leituras e pesquisas! 🙂

#Eu recomendo – Translation Research Terms

Muito interessante e elucidativo o Translation research terms – a tentative glossary for moments of perplexity and dispute, uma lista de termos compilados por Anthony Pym com recomendações de uso para pesquisa em tradução e interpretação.

Seguem dois bons exemplos do que há na lista:

Novice vs. professional translator/interpreter: The term “novice” usually refers to someone who has received training but lacks professional experience. In process studies, novices are often Masters-level students. Since the term is also sometimes used for people who have received no training at all, and given that some Masters students perform better than a lot of experienced professionals, care should be taken not to assume relative ignorance or non-professionalism. The translation profession also uses terms such as “untrained translator”, “junior translator”, or “inexperienced translator”, and Interpreting Studies might prefer “interpreter candidate”. Recommendation: State exactly what you mean by “novice”, and use a more specific term if possible (“untrained translators”, “natural translators” (q.v.), “final-year Masters students”, etc.).

CAT tools: The term “computer-aided translation” (or “computer-assisted translation”) is now a misnomer, since computers are involved in almost all translations jobs, and in a lot of interpreting as well. The term should be replaced by clear reference to the technologies actually involved (e.g. translation memories, machine translation, terminology database). Recommendation: Avoid.

Não deixem de conferir! Dêem, também, uma olhada nas referências ao final do glossário, são ótimas para quem se interessa por teoria da tradução.

E no próximo post, a continuação da série Dicas de Pesquisa para Versão. Não percam!


Alimente a pulga atrás de sua orelha

Semanas atrás, lendo o Tradução e Adaptação, do Lauro Maia Amorim, senti necessidade de achar visões diferentes das teorias e autores por ele apresentados no livro. Ainda não consegui avançar muito na leitura e como estou retomando aos poucos os estudos de teoria da tradução e assuntos correlatos, estou tendo certas dificuldades em achar teóricos e textos para fazer análises comparativas.

Mas não é que no auge da minha frustração, a Denise Bottman publica esse curtíssimo mas significativo post? Pois é, o texto do Paulo Henriques Britto caiu do céu! Nele pude encontrar algumas das referências que eu precisava para dar um impulso nos meus estudos, sendo o próprio Britto uma delas.

Lembro que na época em que eu era universitária fazia alguns estudos comparativos por instinto. Ou seja, o professor dava um texto, uma pulga nascia atrás da orelha e eu ia atrás de outros que pudessem conter teorias ou opiniões diferentes. Nada de muito criterioso, embora às vezes eu achasse ótimos materiais, como esse aqui e esse aqui (que deu origem ao primeiro), por exemplo, sobre as teorias sociolingüísticas de Marcos Bagno. Porém, não lembro de haver um grande incentivo em fazer essas análises comparativas, já que os professores costumavam nos apresentar as teorias como se elas fossem ponto pacífico, quando na verdade existiam outros autores que impugnavam essas mesmas teorias (e, muitas vezes, as desmantelavam!).

Para quem está na universidade, espero que toda vez que um professor apresente uma teoria ou um autor mas deixe de apresentar um contraponto uma pulga nasça atrás de sua orelha. Pesquise, procure saber o que falam outros autores, mesmo que, ao final, confirmem o que diz o autor indicado por seu professor. Além de você se aprofundar muito mais nos assuntos discutidos em sala, criará um senso crítico que lhe permita não apenas repetir o que está sendo falado pela maioria, mas argumentar com propriedade e clareza a favor ou contra os pontos levantados nessas discussões. E esse senso crítico, não aquele que todo mundo pensa ter,  mas a verdadeira faculdade de julgar com base em fatos e não factóides, levamos conosco para muito além dos muros da universidade. Levamos para a vida.


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