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Os manuais, a leitura e a escrita na tradução

Depois de ter escrito o artigo  Crie seu próprio guia de estilo, ocorreu-me que seria interessante falar também sobre a escrita na tradução de modo mais geral.

Todos sabemos que manter a padronização de termos numa tradução, principalmente na técnica, é essencial e confere qualidade superior ao texto. Mas a padronização em si é apenas uma pequena fatia do produto final, já que um texto não se limita apenas a convenções terminológicas ou ortográficas.

Para entender melhor, vou usar alguns textos do filósofo Olavo de Carvalho. Cito abaixo trecho de A arte de escrever, Lição 1: Esqueça o Manual de Redação. Lembrando, antes, que 1) o autor discorre sobre a produção de textos originais, e não de traduções; 2) o texto foi escrito tendo em mente o contexto jornalístico, portanto, guardemos as devidas proporções e ressalvas; e 3) ainda que não fale de tradução propriamente dita, o texto ajuda a entender a importância de saber escrever e de como escrever, e isso, claro, diz muitíssimo respeito à atividade tradutória.

Vamos ao trecho, então:

A padronização pode ser um mal inevitável. Mas para que exagerar, vendo nela um bem absoluto, o modelo mesmo de boa escrita? (…)
Normas de redação, se estatuídas, devem ser apresentadas, com toda a modéstia, como convenções práticas, neutras, nem melhores nem piores que quaisquer outras, e nunca como padrões de “bom gosto”, “elegância”, etc., que são valores de estética literária muito mais sutis do que aquilo que esse gênero de manuais está em condições de delimitar. Os manuais deveriam ater-se, o quanto possível, a aspectos exteriores e “materiais” da escrita, como ortografia, abreviaturas, padronização de nomes, evitando pontificar sobre estilo ou, pelo menos, opinando nisto com extremo cuidado e tão somente em nome da conveniência utilitária, não da estética.

A primeira questão é que, realmente, a forma (“ortografia, abreviaturas, padronização de nomes”) é diferente do estilo (“‘bom gosto’, ‘elegância’, etc., que são valores de estética literária”), então talvez seja um pouco equivocado se falar em “manual/guia de estilo”. Talvez o mais adequado fosse “manual/guia de padronização”, ou algo semelhante.

A segunda questão é muito importante para o tradutor. Quando o autor diz “Mas para que exagerar, vendo nela [na padronização] um bem absoluto, o modelo mesmo de boa escrita?”, resta claro que a padronização terminológica ou ortográfica de um texto não basta para que ele seja bom. Levando isso para a atividade tradutória: ainda que a terminologia e os aspectos formais da língua estejam uniformizados na tradução, há muito mais que devemos fazer para ser ela considerada uma tradução de qualidade. Trata-se da “estética literária”, das sutilezas da língua e do estilo.

É claro que a questão de estética terá níveis diferentes dependendo do que traduzimos. Traduções de textos técnicos exigem menos esforço literário, digamos assim, do que as de contos, crônicas ou poemas. Creio que vocês entendem a diferença.

Agora, para desenvolvermos um texto que não apenas gire em torno da uniformização terminológica, mas que tenha também riqueza de vocabulário, ausência de ambiguidades ou termos equivocados, ideias concatenadas (entre si, e entre a tradução e o original), adequação etc. é preciso saber escrever bem. E para escrever bem, voltemos à velha máxima: é preciso ler. O tradutor lê o tempo inteiro, mas é fato que, se ele ficar restrito às leituras de trabalho, será cada vez mais difícil enriquecer não só seu vocabulário, como também seu imaginário. Até porque, nem tudo que nos cai nas mãos para traduzir é bem escrito ou tem bom conteúdo.

Cito mais um trecho de A Arte de Escrever… (grifo meu):

A amoldagem da cabeça humana a um conjunto de normas práticas, não contrabalançada pela consciência do caráter meramente convencional dessas normas, pode produzir nela uma verdadeira mutilação intelectual, tornando-a, a longo prazo, incapaz de compreender e apreciar o que quer que esteja fora do padrão costumeiro. A quase absoluta incapacidade para a leitura de textos mais abstratos, de filosofia e ciência, por exemplo, que observo em tantos de meus colegas, não resulta de nenhuma deficiência congênita, mas do costume adquirido de lidar com uma só das dimensões da linguagem, deixando atrofiar a sensibilidade para todas as demais: o hábito da escrita plana e rasa produz a leitura plana e rasa.

Quando falamos de traduzir, não falamos somente da transposição de ideias de uma língua a outra, mas também de como essa transposição é feita, e seu meio é a escrita. Isso quer dizer que escrever não pode ser considerado um ofício menor do que o ato de traduzir em si. Ao contrário: escrever é o meio de que se vale para fazer tal transposição sendo, portanto, parte essencial e mais visível do trabalho do tradutor. Afinal, o leitor não terá acesso ao original e não fará uma análise de nossa transposição de ideias. O que ele tem em mãos é o produto final, um texto pronto, escrito em seu idioma materno.

Mas para que a escrita, de modo geral e na tradução, seja bem desenvolvida, não basta ler. É preciso saber ler. Em Aprendendo a escrever, Olavo de Carvalho adverte:

A seleção das leituras supõe muitas leituras, e não haveria saída deste círculo vicioso sem a distinção de dois tipos: as leituras de mera inspeção conduzem à escolha de um certo número de títulos para leitura atenta e aprofundada. É esta que ensina a escrever, mas não se chega a esta sem aquela. Aquela, por sua vez, supõe a busca e a consulta. Não há, pois, leitura séria sem o domínio das cronologias, bibliografias, enciclopédias, resenhas históricas gerais. O sujeito que nunca tenha lido um livro até o fim, mas que de tanto vasculhar índices e arquivos tenha adquirido uma visão sistêmica do que deve ler nos anos seguintes, já é um homem mais culto do que aquele que, de cara, tenha mergulhado na “Divina comédia” ou na “Crítica da razão pura” sem saber de onde saíram nem por que as está lendo.

Portanto, não é “ler de tudo” o que realmente nos faz aprender a escrever bem, mas sim a seleção que fazemos dentro desse “tudo”. É tarefa difícil, mas tendo consciência de que existem esses dois tipos de leitura, fica mais fácil nos atermos àquelas que nos serão mais úteis.

Para quem quer ser escritor, no mesmo texto o filósofo dá um conselho que nós, tradutores, podemos aproveitar, já que, em certa medida, somos também escritores:

Mas a aquisição do código supõe, além da leitura, a absorção ativa. É preciso que você, além de ouvir, pratique a língua do escritor que está lendo. Praticar, em português antigo, significa também conversar. (…)

Ou seja, para escrever bem, além de ler bem, é preciso praticar. Isso envolve, também, a tradução. Para se traduzir bem, só com a prática. E essa prática é algo contínuo, que não termina nunca. A vatangem da nossa profissão é que, quanto mais velhos e experientes ficamos, mais valor temos. Enquanto um atleta vê seu corpo e seu desempenho declinarem com o tempo, um tradutor vê sua mente cada vez mais em expansão. E, com as constantes leituras e exercícios de escrita e tradução, maior é sua capacidade de construir um texto rico, coeso e coerente, porque maiores são suas referências e experiência de mundo.

Isso pode se dar de muitas formas, desde traduzir textos de assuntos ou autores que nos interessam nas horas vagas, até arriscar a escrever textos literários em um blog. Há também um tipo de exercício que Olavo de Carvalho indica como método para aprimorar a escrita, que é o da imitação. Pegar um autor que gostemos (por exemplo Eça de Queiroz, Manuel Bandeira, Clarice Lispector etc.) e escrever imitando seu estilo. Segundo ele,

A imitação é a única maneira de assimilar profundamente. Se é impossível você aprender inglês ou espanhol só de ouvir, sem nunca tentar falar, por que seria diferente com o estilo dos escritores? (…) imitando um, depois outro e outro e outro mais, você não ficará parecido com nenhum deles, mas, compondo com o que aprendeu deles o seu arsenal pessoal de modos de dizer, acabará no fim das contas sendo você mesmo, apenas potencializado e enobrecido pelas armas que adquiriu.

Assim, não é difícil notar que fazer boas traduções pressupõe esforço contínuo: seja seguindo com cuidado as regras de padronização, seja desenvolvendo nossa capacidade cognitiva por meio de boas leituras ou aprimorando nossa escrita com exercícios práticos. O conjunto de todas essas coisas, aliado ao cuidado com o texto original e com a profissão em si, é o que faz um tradutor caminhar cada vez mais para a completude.

Errando e aprendendo

Pessoal,

Enquanto não volto com o texto sobre as CAT tools, o qual sei que muitos estão aguardando, leiam sem falta o excelente texto publicado hoje no blog do colega Petê Rissatti: “Errando e aprendendo”.

Texto simples que diz muito! Quem sabe depois a gente não bate um papo aqui também sobre erros e acertos?

Boa semana 🙂

Ao Principiante no blog do ProZ

Oi pessoal,

Para quem curte blogs sobre tradução, o Translator T.O. (blog do ProZ.com), traz uma lista de blogs sobre o assunto, escritos em inglês e outras línguas.

O Ao Principiante está lá!

É uma grande honra ter o AP listado junto com outros tantos blogs de conteúdo excelente, feito por profissionais que admiro muito. Obrigada por lerem o Ao Principiante e pelo incentivo que recebo de vocês todos os dias. 🙂

Tradução x Versão II: esclarecendo pontos importantes

Olá pessoal,

Achei por bem deixar a série de posts para quinta-feira (amanhã não conseguirei postar) e continuar nossa conversa sobre Tradução x Versão. Prometi à Isabel que responderia ao comentário dela de ontem por aqui . Ela diz:

“não entendi por que não fazer versoes. e se a pessoa gostar de escrever em inglês, qual o problema? nao entendi por que nao fazer versoes, por favor me explique melhor. algumas vezes quando trabalho nao fica legal eu devolvo o dinheiro mas adoraria estudar mais e fazer versoes por que é o que eu gosto, adoro escrever em ingles”.

Vamos aos esclarecimentos, então (hora de pegar um cafezinho 😉 ):

1- Gostar de escrever em inglês praticamente nada tem a ver com traduzir um texto para o inglês. Ambos usam o registro escrito em uma língua comum – o inglês – e só. O “escrever em inglês” é seu. Você se compromete apenas com você mesmo. Seu texto é o original, ou seja, não se baseia em nenhum outro e comunica um pensamento ou uma opinião pessoal, seja para você mesmo (em um diário, por exemplo), seja para outra pessoa (em uma carta ou um e-mail comercial, por exemplo).

2- Já traduzir, como atividade profissional, implica dever com o autor do texto original. O texto não é seu, a mensagem não é sua. Você não está realmente escrevendo, no sentido de produzir conteúdo. Está apenas transmitindo a mensagem de uma outra pessoa – seu cliente, em outra língua. Ou seja, escrever um texto é criar uma mensagem. Traduzir um texto é veicular a mensagem de um terceiro em outro idioma.

3- Certamente o tradutor precisa gostar de escrever, o que não significa, necessariamente, gostar de criar um texto. O “gostar de escrever do tradutor” é gostar de lidar com textos e palavras, ter habilidade para interpretá-los nos idiomas com os quais trabalha, fazer uso correto da gramática e nunca deixar de estudá-la, ler muito para saber escrever melhor ainda. Isso quer dizer que esse “gostar” exige estudo e disciplina, o que o tira da categoria “hobby” e o insere na categoria “profissão”.

4- Supondo que uma pessoa goste de escrever (criar textos), ainda assim não é garantia de que será um bom tradutor. As habilidades do tradutor não estão apenas concentradas na construção de um texto, mas em muitas outras práticas necessárias a essa atividade profissional. O tradutor precisa fazer pesquisas muitas vezes detalhadas e aprofundadas sobre assuntos que não conhece bem (e também saber onde acessar as informações), ter um conhecimento geral consideravelmente vasto para não cair em armadilhas tradutórias, conhecer bem a cultura do idioma estrangeiro, cuidar da fluência e da coerência da tradução sempre pensando no público-alvo, estar inteirado com a tecnologia atual (não precisa ser um hacker, mas precisa conhecer bem suas ferramentas de trabalho), fora toda a parte comercial, como captar clientes e fazer networking.

5- Agora falando especificamente de versão. Por mais que uma pessoa conheça muito bem um idioma estrangeiro, ela nunca será falante nativa daquele idioma (com exceção de indivíduos bilíngües, aqueles que foram criados ouvindo e falando dois idiomas concomitantemente – e que, mesmo assim, nem sempre serão bons tradutores). Isso significa que um falante de português que aprendeu inglês jamais terá a mesma fluência e entendimento das pequenas nuances da língua inglesa como um americano ou um britânico. Ele terá aquela fluência do estrangeiro que fala uma segunda língua, ou seja, do brasileiro que sabe se comunicar em inglês, que fala e escreve bem, mas que produz um texto ou participa de uma conversa com o “sotaque” de sua língua materna, o português. Se você der uma pesquisada, vai ver que alguns livros e páginas na internet falam sobre “os erros mais comuns cometidos por estudantes de inglês”, os quais, no fundo, mesmo um profissional não está totalmente livre de cometer. Isso porque cada povo entende a língua e a cultura de formas distintas e isso fica bem claro em seus discursos. Por exemplo, por que será que em português falamos “interferir em”, mas em inglês é “interfere with”? E por que, de vez em quando, pipoca um texto com “interfere in”? Saber essas pequenas sutilezas é que vai distinguir os bons dos maus tradutores. E é por isso que fazer versão é complicado, porque são sutilezas que não nos são naturais, exigem olhar treinado, estudo e muita prática. Por isso, nunca é demais repetir: traduzir/verter não é apenas transpor palavras de um idioma para o outro.

6- Não que seja proibido um falante de português passar um texto para o inglês. Só que a atenção e o cuidado devem ser redobrados. Como vimos ontem nos comentários da Tradutores/Intérpretes BR, o mercado aqui no Brasil tem muita demanda por versões, mas não tem número de nativos suficientes para realizá-las. O tradutor brasileiro que se comprometer a fazê-las deve estar ciente de sua responsabilidade e, de preferência, contar com um revisor. Assim, poderá garantir a qualidade de seu trabalho e atender às necessidades de seus clientes.

7- Isabel, se você quer se dedicar ao ofício de tradutor, precisa encarar essa atividade como profissão e não como passatempo. Imagine que você compra uma blusa e, quando chega em casa, percebe que está com defeito. Você volta até a loja querendo uma blusa igual, porém sem defeitos, afinal você escolheu aquela loja porque gosta muito da marca. Mas o vendedor diz que não pode consertar sua blusa nem lhe dar outra nova e acaba devolvendo seu dinheiro. Como você se sente nesse tipo de situação? Você perdeu seu tempo indo até a loja (que não percebeu o defeito na peça) duas vezes (para comprar e para trocar) e a loja não conseguiu solucionar seu problema, resolvendo que é melhor você gastar seu dinheiro em outro lugar. Se fosse eu, nunca mais voltava na loja. Com o tradutor é a mesma coisa. Quando um cliente seu recebe a tradução e vê que ficou ruim, ele está fazendo o seu serviço. É você que tem que prezar pela qualidade de seu trabalho, não o cliente. E se ele não entende inglês? Imagine que ele, que não sabe uma palavra de inglês, pede para você verter o resumo de um artigo que deseja publicar em uma revista científica internacional. O artigo (que, tudo dando certo, poderá ser seu próximo trabalho) será aceito com base apenas nesse resumo. Se você fizer uma versão ruim, prejudicará a carreira de seu cliente e todo o trabalho que ele teve escrevendo o artigo terá sido em vão (além de você perder o que seria seu próximo trabalho). É como se você se produzisse toda para uma festa e não visse o defeito da blusa, saindo com o sutiã (ou coisa pior) aparecendo. Quero dizer, a responsabilidade do tradutor não é nada pequena. Se você pensar que os tradutores traduzem bulas de remédio, manuais de máquinas pesadas e perigosas, manuais de instrumentos cirúrgicos, etc., perceberá que não é exagero. Um erro na tradução e uma pessoa pode perder um braço, tomar uma medicação errada ou até morrer.

8- Além disso, você nunca conseguirá se firmar no mercado se seus clientes precisarem devolver seu trabalho, pois dificilmente eles lhe procurarão novamente. Cliente não dá em árvore e uma hora você se verá sem nenhum. Portanto, se quer seguir esse caminho estude, como você disse (inclusive nunca deixe de aperfeiçoar o português, sua primeira língua). Estude muito e tenha sempre consciência de suas limitações. Quando receber textos, leia e avalie se terá condições de vertê-los. Não é errado dizer não, como eu disse ontem. É melhor negar um serviço e se preservar, do que aceitar o que está acima de sua capacidade e deixar seu cliente sair com uma blusa furada.

Tradução x Versão

Não sei se todos vocês conhecem a comunidade do Orkut chamada Tradutores/Intérpretes BR. Vale muito a pena entrar na comunidade, onde podem ser encontradas discussões sobre os mais variados aspectos da profissão. Dê uma passeada pelos tópicos do fórum ou use a ferramenta de pesquisa e você verá que não é exagero.

Um tópico de 2005 foi “ressuscitado” há pouco tempo e achei pertinente falar um pouco sobre o assunto aqui no blog. A questão tratada é Tradução x Versão. O tópico começou com um debate sobre preços e o significado do termo versão e depois resultou na questão talvez mais importante: o tradutor deve ou não fazer versões? Ou seja, passar um texto de sua língua materna para a língua estrangeira com a qual trabalha?

Na minha opinião, o ideal seria não fazer versões. No entanto, precisamos encarar a realidade da profissão e do mercado tradutório: muitas vezes, o iniciante é simplesmente obrigado a aceitar esse tipo de trabalho, ou corre o risco de ficar sem renda no final do mês. O que disse lá no tópico, repito aqui:

(…) faço versões, e muitas. (…) porque a grande maioria dos textos que minha empresa pega são para passar para o inglês. A grande vantagem é aprender. Fazer versão é uma escola e tanto, ainda mais que, no meu caso, há quem a revise depois e eu posso pedir um feedback ou o arquivo revisado. (…) Costumam lançar um olhar horrorizado quando digo que faço mais versões que traduções. Mas enfim, tudo depende da demanda e da sua necessidade. Se eu me negasse, estava sem emprego. Se a empresa se negasse, estava sem clientes. Já em trabalhos como freelancer, geralmente pego os acadêmicos, abstracts, nada muito fora da minha capacidade. (…) Acho que o sonho do novato é poder, um dia, escolher o que quer fazer. Eu espero deixar de fazer versões, mas sempre serei grata a elas.

Outras opiniões que achei interessantes e que seguem a mesma linha do meu pensamento são as da Kelli e da Marie, que assim como eu fazem parte da comunidade. Muitas outras pessoas também deixaram suas impressões sobre o assunto e vale a pena conferir os diferentes pontos de vista, é muito enriquecedor. A discussão completa está aqui. Um pouquinho da visão das duas destaco abaixo (os grifos são meus):

Kelli:

(…) Tem que comer, tem que pagar conta e não tem fluxo constante ou clientes fixos. Se o que aparece é versão (…) bom… é arregaçar as mangas e fazer o melhor possível, sempre.

(…) eu acho que depende do mercado. Fora do Brasil, realmente é uma prática muito incomum. Aqui, porém, a demanda por tradução do português para o inglês é imensa, e eu sinceramente duvido que existam tradutores nativos de inglês suficientes para darem conta.

Não acho que todos devam fazer versão. Demora horrores, é chato, paga mais mas compensa menos. Tudo isso é verdade. Mas é um exercício fantástico.

Marie:

(…) E faço mais versão também – principalmente porque meu nicho tem sido o acadêmico (…) Aliás, meu primeiro trabalho na área foi uma versão.

Sem autocrítica constante o barco do iniciante afunda! Por isso mesmo tenho um fluxo pequeno de trabalho, para manter meu barquinho são e salvo (…) iniciante não tem escolha (…) E falo “não” com a maior tranquilidade – já peguei textos escabrosos que em segundos já sabia que não dava para encarar.

As decisões profissionais nem sempre (ou melhor, quase nunca) são fáceis. Cabe ao tradutor ter bom-senso para saber o que pode ou não e o que deve ou não fazer. Isso exige constante auto-análise e uma boa dose de desconfiômetro. Repito o que disse no post sobre responsabilidade: é inteligente recusar um trabalho quando sabemos que não somos capacitados. Por outro lado, correr riscos pode ser interessante, desde que dentro de limites muito bem estabelecidos. Com equilíbrio e persistência, o iniciante consegue se aperfeiçoar sem queimar o filme no mercado.

E já que, como vimos, versão é assunto importante, amanhã começa a SÉRIE DE POSTS que mencionei aqui e que pode facilitar a vida dos novatos.

Não deixem de passar no blog para conferir!

 


#Eu recomendo – (n.t.)

Olá pessoal,

Ficaram sabendo da mais nova revista literária em tradução , a (n.t.)?

O primeiro número saiu em setembro e está disponível online e em pdf. Ela traz traduções de poesias, contos, prosas e lindas ilustrações, além de um suplemento de arte. A idéia é publicar textos de línguas e autores de pouca visibilidade no Brasil. A publicação é semestral e traz sempre os textos originais junto com suas traduções.

Aqui vai um pequeno trecho do editorial dessa edição para sentir o clima da revista:

“…não há como não pensar (…) no caráter cosmopolita da tradução, que desconhece barreiras, que perpassa fronteiras, que aproxima costumes, que rompe distâncias, uma vez que é detentora de um caráter universal e um saber sui generis que lhe são intrínsecos”.

Vale muito a pena conferir!

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